Obstáculos ao trabalho das mulheres
O pleno trabalho das mulheres na sociedade é obstaculizado de várias formas, sendo impedido o acesso à recursos e tempo na mesma medida dos homens. São poucas ou inexistentes as políticas públicas que se propõem a transformar esta realidade.
A não realização do próprio trabalho doméstico por parte dos homens é um desses obstáculos. A maioria dos homens não realiza seu próprio trabalho doméstico, delegando-o a uma mulher – que o efetua de forma gratuita, no caso de integrantes familiares, ou paga, como no caso das empregadas domésticas. No trabalho não pago, mulheres perdem tempo que poderiam estar empenhando no seu trabalho principal e crescimento profissional e, logo, recebem menos renda ao longo da vida. Momentos de descanso e lazer são também encurtados, o que interfere em menor disposição física ao longo da semana, interferindo diretamente no seu tempo hábil para o trabalho principal.
No caso do trabalho doméstico pago, realizado na casa de outras pessoas, há de levantar o debate sobre a responsabilidade individual pela própria limpeza e organização, de si e do seu espaço de habitação. A partir do momento que todas as pessoas se responsabilizam pela manutenção necessária do espaço privado que utilizam, mulheres economicamente desfavorecidas passam a ser entendidas como merecedoras de trabalhos que as impulsionem intelectualmente, que as acolham enquanto sujeitos decisórios que interferem nos espaços coletivos de estratégia e resolução de problemas. Ou qualquer outro trabalho que resulte em desenvolvimento de trajetórias pessoais gratificantes. A realização de trabalho doméstico de outras pessoas apenas existe porque determinados grupos econômicos possuem recursos econômicos que os possibilitam pagar. Retirada a barreira econômica entre as pessoas e possibilitando oportunidades para toda a sociedade, certamente não sobraria uma pessoa disposta a limpar a sujeira dos outros. Cada um que limpe a sua sem terceirizar sua responsabilidade.
Outro obstáculo ao pleno trabalho das mulheres é a não realização de trabalho de cuidados por parte dos homens. A maior parte dos homens não realiza trabalho de cuidados – de crianças, pessoas doentes da família, ou de pessoas idosas que requerem atenção extra. Nesse item, mulheres realizam a parte do trabalho de cuidados que o homem não está realizando e novamente perdem tempo que poderiam estar empenhando no seu trabalho principal.
As violências de vários tipos nos locais de trabalho, praticada por homens contra as mulheres, constituem mais um obstáculo ao pleno trabalho para as mulheres na sociedade. Um deles é a violência psicológica, entendida em seu sentido mais amplo. Interromper constantemente mulheres quando estão falando em reuniões, apresentações de propostas ou dia a dia no trabalho; pouco ou nenhum impulsionamento da visibilidade profissional das mulheres em empresas e instituições – menos ou nenhuma aparição pública, menos ou nenhuma promoção, menos ou nenhuma aprovação de suas ideias na empresa etc.; olhares constantes para as partes íntimas das mulheres em seus locais de trabalho, vindas de colegas; toques excessivos – abraços, toque no ombro, toque na cintura, no cabelo etc.; pouca ou nenhuma atenção às boas propostas e ideias das mulheres enquanto que ideias ruins vindas de homens são constantemente celebradas; e assim por diante. Em geral, o ambiente de trabalho favorece o bem-estar de homens e o impulsionamento de suas ideias, atenção coletiva às suas reflexões e propostas enquanto dificulta a permanência material e emocional de mulheres.
Homens controlam esse sistema a partir de uma interpretação sobre as mulheres que os permite desvalorizar, destratar e serem indiferentes aos seus feitos. Impulsionados pelo senso de comunidade entre homens e exploração do trabalho feminino – o trabalho principal, o doméstico e o de cuidados – reforçam este regime político e social – o patriarcado – que os beneficia de todas as formas, entendido também a partir das devidas fronteiras e ressalvas entre grupos econômicos e raciais. Homens seguem certos de que suas garantias e privilégios, principalmente frente às mulheres de sua própria classe econômica, mas não apenas, serão mantidos.
A falta de creche nos locais de trabalho é mais um grande obstáculo ao pleno trabalho das mulheres nas sociedades. Dada a não participação ou pouca participação dos homens no trabalho de cuidados com bebês e crianças, as mulheres mães que ficam a cargos dessas funções são novamente prejudicadas quando não tem acesso a políticas de creche. Creches em todos os locais de trabalho resolveriam essa questão. Novamente, dado que a maioria das empresas são geridas/pertencidas/coordenadas por homens, não implementam tal política, pois não a percebem como uma prioridade, já que o regime patriarcal os concede com o privilégio da indiferença.
Esses quatro pontos são apenas alguns dos que impedem a efetivação da plena cidadania das mulheres em termos de pleno trabalho e oportunidades profissionais, tornando-as mais vulneráveis econômica e socialmente. Dessa forma, é fortalecida a lógica que valoriza homens e desvaloriza, desrespeita, explora e violenta mulheres.
Há um caminho a ser construído pelos homens, que é a mudança de comportamento individual. Enquanto sociedade, há de se implementar políticas públicas em empresas e instituições, além de regulamentações e leis sobre o trabalho, possibilitando sociedades justas e que valorizem a vida e o tempo individual de todas as pessoas.
Texto curto da seção Breves escrito por Daniela Alvares Beskow
05 de abril de 2024 (escrito em 28/03/2024)
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